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Voo de realidade: com Pedro, Flamengo bate Vélez e confirma novo patamar na América

Pedro gol Flamengo Velez Libertadores 2022

(Marcelo Cortes / Flamengo)

Pedro Marinho Flamengo 2022

(Marcelo Cortes / Flamengo)

A bola decola de maneira suave e viaja. Toma uma curva no espaço até encontrar a cabeça platinada. Leva, então, novo impulso. E dispara ainda mais forte. O beijo no travessão é suficiente para girar e atravessar a linha até o chão com tamanho capricho, quicar e voltar a beijar a rede acima. Não há dúvidas do gol. O voo, então, cessa. Pedro vai ao chão. Abre os braços. Bate no peito, sorri e reverencia a massa. É tudo rápido demais. De um suspiro a um silêncio. De um silêncio a um urro. O gol é o empate no que mais tarde seria a vitória de 2 a 1 sobre o Vélez no Maracanã. Não há mais como negar. Impossível não reconhecer o voo. Em quatro anos, três finais. O Flamengo atingiu um novo patamar na América.

Quantos moleques talvez não compreendam a magnitude do feito da geração de Gabigol, Filipe Luís, Everton Ribeiro, Pedro? Pois tão novos, eles, talvez tenham sido forjados como torcedores em tempos sem tantas dificuldades em combates sul-americanos. Pois relaxem, guris. Talvez nem mesmo galalaus que já sobem a rampa do Maracanã há décadas desde fraldinhas tenham a exata dimensão do feito que nem a geração de Zico apresentou. Não, este Flamengo não entrega a mágica de 81 com basicamente um craque por posição. Tampouco a plasticidade com fúria de 2019 que lavou a alma de gerações diante do Grêmio na semifinal do bicampeonato. Mas é encaixado. Tem momentos de beleza e sabe ser pragmático quando necessário. E, acima de tudo, consegue ser sério. A começar por quem está no banco de reservas.

Fla no início: losango, Cebolinha pela direita

Dorival Júnior não cansou de bater na tecla. Nenhum duelo estava ganho, nem mesmo com os quatro gols de vantagem construídos de forma exuberante em Buenos Aires uma semana antes. É necessário repetir uma ideia para impedir a competitividade baixar em um torneio tão importante. Principalmente quando é preciso jogar ao mesmo tempo com a realidade que se apresentava. Sem a dupla de zaga, suspensa, era obrigatório também enfraquecer mais o time e retirar Thiago Maia e Gabigol, pendurados. Um risco calculado. Sem os dois, Dorival pôs Vidal no meio, com João Gomes recuado a primeiro volante, e Everton Cebolinha ao lado de Pedro, num 4-4-2 no losango já clássico. Preferiu basicamente não mexer na estrutura. Encontrou dificuldades.

Não só pela própria atuação. Mas por um Vélez melhor armado por Medina do que na Argentina. Sem nada a perder, o time portenho chegou ao Maracanã em um 4-1-4-1, com maior presença no meio. Caseres à frente da linha defensiva, à frente Florentín e Garayalde por dentro, com Orellano e Janson trabalhando em velocidade pelos lados. A aposta de Medina era alternar os setores. Buscava as costas de Filipe Luís ou Rodinei e, rapidamente, invertia o jogo. Aproveitava também um problema apresentado pelo Flamengo: um buraco por dentro. Espaçado, o Flamengo até tentava pressionar com os homens mais avançados. Mais Pedro, Cebolinha e Arrascaeta pressionavam e permaneciam. O Vélez estourava pelos lados e trazia complicações ao avançar em velocidade pelos lados e depois lançar pelo centro. Vidal e João Gomes ficavam sobrecarregados. Os zagueiros mais expostos. Era desconfortável.

Vélez no início: maior recheio no meio e velocidade nos lados

As poucas investidas rubro-negras ocorriam pela direita, com Rodinei e suas ultrapassagens e Everton Ribeiro. Everton Cebolinha, deslocado a um lado oposto de seu habitat, tinha dificuldades na movimentação. E o time ressentia de Gabigol, com sua inteligência nos espaços e entrosamento com os companheiros. Como o Vélez tinha possibilidade de sair para o jogo e pressionava no meio, o gol chegou. Fabrício Bruno tentou forçar o passe por dentro para Arrascaeta. O time saía, mas o meia acabou desarmado por Garayalde, que avançou e tocou em Janson à esquerda. Com liberdade, ele cruzou rasteiro para Pratto se antecipar fácil a Pablo e abrir o placar. 1 a 0.

Fla ao fim: Rodinei como ponta, Varela na lateral

O tom de nervosismo abraçou o Maracanã. A vantagem, claro, ainda era muito larga. Mas a segunda perna da semifinal não se desenhava como imaginado. Havia dificuldade além da conta. Havia desentrosamento, marcação falha. Muita bola com o Vélez. A alternativa foi trazer a posse um pouco aos pés rubro-negros. Arrascaeta, Everton Ribeiro. Meias que passaram a reger um pouco mais o jogo, a controlar e acalmar a arquibancada. João Gomes, onipresente e em constante evolução, cresceu no campo ofensivo e o Flamengo aumentou seu volume. Arrascaeta em chute rasteiro quase empatou. Até que Everton Ribeiro, pela direita, puxou para dentro. Pedro entendeu e disparou. Tomou a frente de De Los Santos, viu a bola e se antecipou. O voo de braços abertos foi belo. Mas a cabeçada, praticamente de costas, foi magistral. Travessão, chão, rede. Burián, inconsolável, foi buscar a bola dentro do gol. 1 a 1. Um intervalo mais calmo e a terceira final muito próxima.

Vélez ao fim: mais ofensivo, mas com mais espaços ao Flamengo

O segundo tempo trouxe um jogo mais aos moldes esperados. Um confronto direcionado pelo primeiro jogo. Medina necessitava buscar o ataque de qualquer maneira. Preencher o meio, causar dificuldades e sair pelos lados não bastaria. Era necessário ser mais agressivo. A mudança tripla, incluída aí a de Florentín por Osorio, deixou o time menos combativo. Cedeu mais espaços. Dorival percebeu e reagiu imediatamente. Tirou os amarelados Filipe Luís e Vidal, de olho na decisão, pôs Ayrton Lucas e Pulgar, voltou com João Gomes ao seu posicionamento original, mais à frente, e sem Cebolinha deu lugar a Marinho. Bastaram cinco minutos. Bote de João Gomes no meio, que serviu Pedro. A caneta em Caseres foi digna dos melhores dias do Flamengo de 81 ou 2019. O passe para Marinho deixou à feição para batida na frente da área. A chapada balançou a rede e o Maracanã. 2 a 1.

O Vélez, então, murchou. Entendeu que seria impossível competir. Medina passou a colocar garotos em campo quase como uma forma de oportunidade para atuar no Maracanã. A festa na arquibancada relembrou as melhores noites desde 2019. Luzes de celular encharcaram a arquibancada. Gritos de olé se tornaram trilha sonora. Sem nenhuma ameaça grave, o Flamengo fechou uma semifinal de Libertadores diante de uma equipe argentina com 6 a 1 no agregado. Ao descer a rampa, torcedores de diversas gerações, leves, compartilhavam do sonho do tricampeonato. Nas memórias levavam o voo de Pedro que tirou da garganta o urro de gol e dissipou qualquer dúvida sobre a presença em Guayaquil no dia 29 de outubro. É impossível negar. Três finais em quatro anos. Na América, a realidade do Flamengo atingiu mesmo outro patamar.

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 2X1 VÉLEZ

Data: 07 de setembro de 2022
Árbitro: Piero Maza Gomez (CHI)
VAR: Juan Lara (CHI)
Público e renda: 61.519 pagantes / 66.635 presentes / R$ 5.522.336,00
Cartões amarelos: Filipe Luís, Vidal (FLA) e Seoane e Brizuela (VEL)
Gols: Lucas Pratto (VEL), aos 20 minutos e Pedro (FLA), aos 41 minutos do primeiro tempo e Marinho (FLA), aos 22 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Santos, Rodinei, Fabrício Bruno, Pablo e Filipe Luís (Ayrton Lucas, 17’/2T); João Gomes, Vidal (Pulgar, 17’/2T), Everton Ribeiro (Varela, 38’/2T) e Arrascaeta (Diego, 38’/2T); Everton Cebolinha (Marinho, 17’/2T) e Pedro
Técnico: Dorival Júnior

VÉLEZ: Burián, Jara, De Los Santos, Brizuela e Ortega; Caseres (Seoane, 24’/2T); Orellano (Julian Fernández, 14’/2T), Garayalde, Florentín (Osorio, 14’/2T), Janson (Castro, 39’/2T); Lucas Pratto (Walter Bou, 14’/2T)
Técnico: Cacique Medina

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