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Um passeio de 50 minutos: Flamengo atropela Fluminense e pulsa no Brasileiro

Uribe Fla-Flu 2018 Campeonato Brasileiro

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Fla-Flu 2018 Campeonato Brasileiro Rever

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Ainda seria precoce indicar uma virada de rota definitiva do Flamengo no Campeonato Brasileiro. Mas em dois jogos sob a batuta de Dorival Júnior há algo no ar. Uma fagulha, que seja. Um sopro de energia que faz indicar que o time, sim, ainda pulsa no Campeonato Brasileiro. Um brilho capaz de reconectar time e arquibancada para uma marcha final. Ajuda, claro, uma ótima atuação como a que a equipe teve no clássico contra o Fluminense, neste sábado, no Maracanã. Um 3 a 0 com 50 minutos de encher os olhos, alimentar esperanças por um caminho sólido nesta reta final de 2018. Foi, de fato, um baile de pouco mais de um tempo. Recheado de indicações que fazem pensar o que mais aprontará o Flamengo nos nove jogos restantes. O time, depois de meses, parece estar de novo de guarda alta.

É daquelas contradições compreensíveis apenas para quem acompanha atentamente a rotina do futebol brasileiro. Pois o Flamengo, mesmo no alto da tabela, não dava mais sinais de ter forças para buscar o título. Um time amuado, quieto, sem fibra. Eliminado de Libertadores e Copa do Brasil. Funciona mesmo assim neste louco mundo boleiro dos trópicos: um time no alto de tabela precisa de uma mudança no comando para levar um choque. Seja pela presença de outro comandante em si ou simplesmente pela chacoalhada que o ambiente sofre com o romper de um dia a dia que parecia anestesiado. Característica, errada a olhos estrangeiros, só dessas terras mesmo. O certo por linhas tortas. Dorival Júnior encarna isso nesse pequeno recorte da temporada. Neste instante, sua chegada trouxe benefício ao Flamengo. E o time se aprimora. Reconecta-se.

Fla no início: Paquetá quase atacante, Vitinho ao fundo e Arão volante

Observem Vitinho no Fla-Flu. Número 14 às costas, recebeu a bola com olhos arregalados, partiu em direção ao marcador com peito estufado de confiança de que iria vencê-lo. É enorme a diferença entre o jogador que há pouco tempo, indolente, foi sacado em meros 36 minutos por Mauricio Barbieri, diante do Atlético-MG. Com ele, o Flamengo se reconectou ao time do primeiro semestre. A quebra de sequência do ponta pela esquerda que ia ao fundo, levantava a arquibancada com os dribles ou puxava ao meio para cruzar ou finalizar foi fatal. Vitinho era a esperança de uma sequência de Vinicius Junior. Falhou miseravelmente até o embate com o Corinthians, na última rodada. Sabe-se lá qual tática Dorival utilizou para acender a maior contratação da história do clube. Mas funcionou. Vitinho está ligado. Busca o fundo – coisa rara antes – e vai ao meio. Quer o drible. Entende-se com Paquetá.

Dorival Júnior teve felicidade ao escalar o Flamengo em um 4-2-3-1 diante dos três zagueiros tricolores. E jogou Lucas Paquetá bem à frente. Negociado com o Milan, como o garoto reagiria ao entrar em campo com o passaporte já carimbado? Pois Paquetá foi outro. Ainda mais distinto. Talvez o que tenha seduzido os italianos foi aquele ótimo jogador do primeiro semestre, intenso, onipresente, que fazia o time girar por si ao enxergar bem o campo com passes precisos. Um termômetro. Neste molde, Paquetá não se encontrou mais no segundo semestre. Os passos à frente já tinham sido indicados diante do Corinthians em Itaquera, com dois gols. Contra o Fluminense, avançadíssimo, Paquetá foi importante. Pulsante. Cabeça no lugar, nenhum lance que passava pelos seus pés lembrava o jogador até soberbo que penteava a bola com um misto de nojo e desleixo ineficaz em jogos seguidos no pós-Copa. Passes verticais, à frente. Tabelas com Vitinho. Foi o por ali o inferno do Fluminense.

Flu no início: Mateus Norton envolvido, Ibañez hesitante e um baile do rival

Em um 3-4-3, o Tricolor de Marcelo Oliveira indicou estar errado desde o rolar dos primeiros minutos. Ibañez, canhoto, à direita com o suporte de Mateus Norton, volante improvisado na ala direita. Diante da velocidade e explosão de Vitinho, Norton corria atrás e Ibañez, sedento, buscava ajudá-lo. E esquecia da função de vigiar Paquetá. Abria um espaço enorme por onde avançavam o próprio meia, livre à costas de Richard e perto de Gum e Digão, e por vezes Renê. O bate-cabeça era inevitável no sistema defensivo tricolor que, tonto, assistia ao Flamengo avançar. A bem da verdade, a primeira chance do jogo foi tricolor, com Luciano batendo forte da entrada da área depois de vacilo de Rever ao tentar sair com dribles no campo ofensivo. Mas foi só. O Fluminense não funcionava. Ayrton Lucas atacava pouco. Marcos Júnior, ao centro, não conseguia criar, muito bem vigiado por Cuellar e…Willian Arão.

O volante merece mesmo até um parágrafo à parte. Resgatado aos titulares ainda sob o comando de Mauricio Barbieri, o camisa 5 exalava continuamente o ar descompromissado, quase peladeiro, de quem pouco se preocupa com organização. Desmontava o 4-2-3-1 proposto ao jogar como meia, quase atacante, nunca volante. Ocorre que neste Fla-Flu Arão foi, sim, volante. Preencheu bem o meio, desarmou e saiu apenas na segurança. Preocupou-se com passes mais certeiros. E soube avançar à área criteriosamente. Mais jogador, menos aventureiro. Assim, Arão foi útil, dando equilíbrio ao time, principalmente num jogo no qual Paquetá estava livre demais para ir ao ataque. Vá lá que o jogador mostrou uma velha deficiência – a finalização – em três lances claríssimos após jogadas de Vitinho. Apareceu, livre, na entrada da área da confusa defesa tricolor. Arrematou todas para fora. Mas mora aí a diferença: contra o Atlético-MG Arão arrancou ingênuos elogios por ter feito um gol de saída. Mas, avançado demais, deixou o time totalmente exposto, num perde e ganha permanente. Desta vez, ao contrário. E foi eficaz. Dorival tem esse mérito.

Ao fim, Paquetá solto à frente, Berrío pelo lado e proteção de volantes

Com o time bem ajustado, não foi estranho vê-lo sair na frente rapidamente. Vitinho puxou ao meio e alçou na área. Uribe, enfim, acertou a primeira cabeçada desde que estreou em 18 de julho, contra o São Paulo. A bola ainda desviou em Digão para morrer no fundo da rede de Julio Cesar. 1 a 0. O Maracanã, predominantemente rubro-negro, parecia ter esquecido o clima abafado. A arquibancada pulsou. Explodiu. Entendeu que o time, ligado, lhe convidava a entrar no jogo. O Fluminense sentiu. Acuado, pressionado, não conseguiu frear o ímpeto do rival, trocar passes, esfriar o caldeirão. Entregou campo, impotente. Foi fatal. Este Flamengo renovado por Dorival Júnior mostrou característica diferente. Mesmo quando tem a posse, não alterna de um lado a outro do campo em busca, sempre, do momento exato – que pode jamais acontecer – para chegar ao gol. Arrisca. Busca o fundo, a tabela. Menos cruzamentos. Torna-se mais eficaz e, assim, eleva o nível de confiança. Por tabela, melhora o nível técnico. Surgem as individualidades.

Everton Ribeiro é o exemplo. Adaptado um ano após sua chegada, com ritmo restabelecido à maratona do futebol brasileiro, o camisa 7 estava solto ao perceber a confiança do coletivo. Habilidoso, cansou de causar problemas a Ayrton Lucas, Richard e Digão, chamando o zagueiro para fora da área, esgarçando ainda mais o sistema defensivo tricolor para infiltrações de Arão e Paquetá. Em uma dessas, acabou derrubado pelo zagueiro. Vitinho cobrou falta com precisão na cabeça de Léo Duarte, que tocou ao fundo da rede no apagar das luzes da primeira etapa. Imponente, o Flamengo chegava aos 2 a 0. E era barato ao Fluminense, tamanho domínio. Sem Sornoza e Gilberto, por exemplo, Marcelo Oliveira tentou trabalhar com o que tinha para mostrar o mínimo de reação. Ainda no primeiro tempo percebeu o erro de posicionamento que abria um buraco na frente da defesa. Desfez o sistema com três zagueiros, avançou Ibañez a volante. Melhorou pouco.

Ao fim, Flu sem três zagueiros e aposta na velocidade pelos lados

Na volta do intervalo, sacou Mateus Norton, pôs Jadson para fechar acompanhar melhor Vitinho e colocou Daniel como volante no meio. Não houve tempo de testar a nova tentativa. Com três minutos, Cuellar avançou livre pelo meio, rolou para Paquetá, também livre, bater mascado para dentro da área. Ainda com o sistema totalmente confuso, o Fluminense deixou Uribe sozinho. A tentativa de corte de Digão, de cabeça, encontrou o colombiano, que dividiu bola com Julio Cesar e levou a melhor. 3 a 0. O Fla-Flu, com 50 minutos, estava sacramentado com um baile rubro-negro. Embora a arquibancada clamasse “mais um” ao time, o Flamengo pisou no freio, abriu mão de qualquer ímpeto e passou a tocar a bola ou até mesmo a entregá-la ao rival. Houve, claro, tentativas de lado a lado para apimentar a partida, invariavelmente com velocidade. Marcelo abriu Matheus Alessandro e Everaldo nas pontas. Dorival pôs Berrío à direita e Romulo para fechar o meio, soltando Paquetá à frente na função de Uribe. A rigor, apenas uma chance, em bom lance de Berrío que Richard tirou em cima da linha. O Fla-Flu ficou, mesmo, por conta de 50 minutos.

Tempo necessário para Dorival Júnior comprovar que a semana cheia lhe foi proveitosa. Ao menos no Fla-Flu, arestas foram aparadas. Vitinho ligado, Paquetá incisivo, Arão eficiente no meio, Uribe artilheiro. Há, agora, o desafio da sequência. Manter a regularidade para o restante do Campeonato Brasileiro. Há dúvidas na arquibancada sobre o possível retorno de Diego. Não há dúvidas da importância do meia para o elenco e durante a trajetória neste Brasileiro – teve boas apresentações e se sujeitou a fazer um trabalho mais operário ao compreender o bom momento de Paquetá e Vinicius. Sua renovação, inclusive, é tema debatido – e assunto para outro texto. Mas o óbvio indica que o time, ajustado para um tiro curto como uma Copa do Mundo de nove jogos, não deve ser modificado após dois bons jogos. Sobrou neste Fla-Flu como fizera no primeiro turno. Caberá a Dorival a tarefa de consertar essa aresta e manter a harmonia. Por ora, conseguiu. Uribe, vaiado ao aparecer no telão do Maracanã duante a escalação, saiu aplaudido e com o nome gritado. Em um baile de 50 minutos, o Flamengo mostrou que ainda pulsa pelo heptacampeonato.

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 3X0 FLUMINENSE

Local: Maracanã
Data: 13 de outubro de 2018
Árbitro: Wilton Pereira Sampaio (GO)
Público e renda: 48.894 pagantes / 52.924 presentes / R$ 1.140.402,00
Cartões amarelos: Willian Arão e Pará (FLA) e Mateus Norton, Gum e Richard (FLU)
Gols: Uribe (FLA), aos dez minutos e Léo Duarte (FLA), aos 46 minutos do primeiro tempo e Uribe (FLA), aos três minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Cesar, Pará, Léo Duarte, Rever (Rhodolfo, 20’/2T) e Renê; Cuellar e Willian Arão; Everton Ribeiro (Berrío, 34’/2T), Lucas Paquetá e Vitinho; Uribe (Romulo, 38’/2T)
Técnico: Dorival Júnior

FLUMINENSE: Julio Cesar, Ibañez (Dodi, 23’/2T), Gum e Digão; Mateus Norton (Daniel / Intervalo), Richard, Jadson, Marcos Junior (Matheus Alessandro, 29’/2T) e Ayrton Lucas; Everaldo e Luciano
Técnico: Marcelo Oliveira

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