Gabigol Flamengo gol Santos Maracanã Brasileiro 2019
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Vitória com lição: Flamengo supera Inter com aprendizado no Maracanã

Gabigol Internacional Brasileiro 2019

(Flamengo / Divulgação)

Bruno Henrique Gerson Flamengo Inter Brasileiro 2019

(Flamengo / Divulgação)

O alerta durante a semana chegou com Arrascaeta. Parecia ali um mero abraçar do velho chavão “difícil não é chegar ao topo, mas permanecer nele”. De certa forma, o uruguaio tem razão. O Flamengo de Jorge Jesus continua em ótima fase, desfila imposição no Maracanã, torna o ambiente hostil para os rivais apenas na bola. Empurra qualquer um deles ao seu campo defensivo, sufoca. E torna o jogo fácil. Mora aí o perigo atual para o Rubro-Negro. Realizar tão bem as tarefas a ponto de relaxar quando a partida é…fácil. A boa vitória de 3 a 1 sobre o Internacional trouxe um aprendizado ao líder Flamengo. Ainda que por minutos. É necessário se manter o tempo todo competitivo, com a concentração no alto.

Fla no início: avançado, troca de passes e Everton Ribeiro onipresente

No quarto duelo entre as equipes na temporada seria difícil esperar algo diferente do que ocorrera pouco de um menos antes, nos confrontos da Libertadores. Um Flamengo dominante, com farta troca de passes, intensa movimentação. Jorge Jesus mandou a campo a equipe no 4-4-2, força máxima com Everton Ribeiro e Arrascaeta pelos lados, Willian Arão e Gerson por dentro. À frente Bruno Henrique e Gabigol. A visualização é essa. Um 4-4-2. Na prática, o Flamengo encharca o campo rival com a subida dos laterais que tomam o jogo para si. Filipe Luís, um escândalo, faz de tudo um pouco. Desarma, arma, lê o jogo e entende que a melhor maneira de atuar é entregar a bola com precisão, de pé em pé, sem se arriscar. Foram 15 minutos incessantes. Toques rápidos, sempre em busca do gol rival. O Flamengo de Jorge Jesus é um predador faminto no Maracanã. Fareja o perigo alheio e não lhe dá sossego enquanto não consegue o bote desejado.

Houve facilidade por circunstâncias da noite e, também, por mais uma opção infeliz de Odair Hellmann. A ideia colorada claramente era impedir o Flamengo de jogar. Defensivo, sem ficar ruborizado com estratégia tão diminuta para um clube do porte do Internacional. Um 4-1-4-1 com Nico López e Patrick aos lados, Nonato e Edenílson por dentro. Com minutos, o jogo começou a esfarelar. Moledo, lesionado, deu lugar a Klaus. Foi determinante. Um dos altos pontos do Inter é a solidez da dupla de zaga. Sem ela tornou-se presa mais fácil para um Flamengo sedento. Que martelava. Everton Ribeiro, de volta, passou a tomar o meio para si.

Inter ainda com Guerrero: fechado, na espera por bola longa

Joga como quem flutua num conto de fadas da bola grudada aos seus pés, caindo ao dentro quando abria o corredor para Rafinha ou em busca do lado esquerdo para infernizar Uendel e exigir presença de Patrick. Foi numa quebrada para dentro que o Camisa 7 achou Gabigol pelo meio, escancarado. O giro do artilheiro para deixar Klaus constrangido levantou o Maracanã. E Bruno, então, tentou derrubá-lo ao recorrer de forma até infantil a um puxão descarado quando só restava Lomba pela frente. Pênalti bem marcado e expulsão correta a um jogador que nem mesmo tentou disputar a bola. Tratou de parar o lance sem nem pensar. Gabigol, pela 32ª vez na temporada, anotou a penalidade. 1 a 0.

O gol e a expulsão tão precoces foram fundamentais para desestabilizar o Internacional. A estratégia de simplesmente buscar a defesa e fechar espaços já não fazia mais sentido se o placar era adverso. Odair sacou Nico López e pôs Zeca na lateral. Ensaiou o 4-4-1 tradicional com um a menos em campo e deixou Guerrero solto à frente. Tentou morder a saída de bola do Flamengo. Avançou a marcação. Os rubro-negros que já atingiam os 70% de posse de bola passaram a girar o jogo, buscando sempre os lados. Era matemático. Ao encurtar o centro do campo, o Inter não tinha pernas para cobrir as laterais. Rafinha, então, passou a ser ainda mais incisivo. Por pouco não marcou ao arriscar cruzamento e a bola, de forma marota, quase surpreender um assustado Lomba. Cabia ao Inter a fórmula básica: ao recuperar a pelota, esticar bola para Guerrero.

Ao fim, um Flamengo muito ofensivo, com espaços nos lados

O peruano é conhecido pelo estilo irritadiço quando seu jogo não flui. Já fora assim na Libertadores. Rafinha e, principalmente, Rodrigo Caio entenderam como anulá-lo em campo. Antecipar e evitar o pivô, seu ponto forte. Guerrero, uma vez mais, praticamente não jogou. E deixou-se levar pela pilha do jogo. Na bola esticada recebeu de Edenilson e preparou o arremate com Rodrigo Caio. Em lance de vídeo é possível observar que o zagueiro rubro-negro cometeu o pênalti ao travar o chute por baixo e desarmar o Camisa 9. Mas o VAR não foi consultado por Luiz Flávio, que errou ao mandar o jogo seguir. Transtornado, Guerrero teve dificuldades para pôr os nervos no lugar. Depois de protestar por mais uma dividida com Rodrigo, que lhe custou um sangramento no supercílio, levaria o amarelo. Ao mostrar total descontrole, acabou expulso e elevou a fervura da partida. O erro rubro-negro foi entender que a partida seria completamente fácil.

Tão logo retornou do vestiário o Flamengo baixou sua intensidade e flertou com a desconcentração. A partida começara bem, com farta posse de bola, mas já indicava uma noite tecnicamente abaixo, com alguns erros de passes. O ritmo mais lento, sem a pegada exigida por Jorge Jesus, pressionando sempre o rival com a bola, saindo rápido em direção ao ataque. Custou caro em apenas três minutos. Patrick ganhou bola de Arão pela esquerda e Rodrigo Caio considerou a jogada ganho. O meia colorado, com um carrinho, recuperou a posse e entregou a Lindoso. Com um Flamengo totalmente desarrumado e preparado para sair para o jogo, o time ofereceu algo raro na era Jorge Jesus: a entrada da área totalmente aberta, um convite a finalizações. Problema crônica de outros tempos e que se mostrou ainda fatal: Edenilson emendou de primeira, a bola teve leve desvio em Gerson e matou Diego Alves. 1 a 1.

Então o Flamengo acendeu. A displicência diante de um rival com dois jogadores a menos deu lugar a uma postura atenta. De novo, desejo de ser dono do jogo. O time adiantou, novamente com os zagueiros na risca do meio de campo. Gerson fez o jogo circular pelo centro, distribuindo aos lados. Havia espaço, muito espaço. Os laterais, uma vez mais, voltaram a ocupar o campo rival. O Inter, acuado, observava o rodar da bola com a certeza de que dificilmente resistiria por tantos minutos. Não resistiu. O Flamengo tem característica interessante: Gabigol por vezes abre na direita e deixa espaço para as entradas de Bruno Henrique e Arrascaeta na grande área. O uruguaio é fatal: faz a leitura de espaço com maestria. Ao perceber o receber da bola de Rafinha pela direita, indicou o espaço entre Klaus e Zeca. A bola viajou e chegou com perfeição. O toque de cabeça não deu chances a Marcelo Lomba. 2 a 1. O breve susto tinha passado.

Ao fim, Inter valente, mas sem forças para cobrir os lados do campo

Jorge Jesus indicou trocas para oxigenar o time. Sacou Arão, recuou Gerson e pôs Reinier um pouco atrás de Gabigol, com Bruno Henrique e Arrascaeta nos lados, Everton Ribeiro ainda por dentro, mais à esquerda. A fluidez ofensiva foi ainda maior. Toques rápidos, sempre verticais. E o time desandou a perder chances iniciando as jogadas por dentro, induzindo a marcação colorada, e abrindo espaços pelos lados. Bruno Henrique perdeu duas ótimas chances, a primeira ao bater por cima após tabela com Filipe Luís – já na área como um meia – a segunda ao receber na pequena área de Everton Ribeiro, tocando por cima. Um Flamengo muito mais à vontade em campo, aproveitando o jogo. Não à toa o terceiro gol saiu de uma longa troca de passes, de um lado a outro, com Gerson como figura central no meio. Rafinha recebeu, cruzou na segunda trave e Arrascaeta atacou a área. O passe de primeira encontrou Bruno Henrique na primeira área, que completou na rede. 3 a 1. O Inter, até aguerrido mesmo com dois a menos, entendeu que a partida estava mesmo definida.

O técnico rubro-negro ainda tirou Gabigol e Arrascaeta, avançando Bruno Henrique na área ao lado de Reinier, com Berrío e Vitinho pelos lados, com fartos espaços. Basicamente um 4-2-4 de um jogo já totalmente desconfigurado com as expulsões do Inter. Lindoso ainda perdeu chance clara em bola parada, mas o Flamengo emplacou a oitava vitória seguida no Campeonato Brasileiro, recorde histórico ao lado dos times do Cruzeiro em 2003 e 2013. Uma vitória com 67% de posse de bola, 20 finalizações e 510 passes trocados pelo Flamengo no Maracanã mais uma vez cheio. Números impactantes, mas que, friamente, ignoram a maior lição ao líder: o Flamengo por instantes baixou a rotação, chegou a se desconcentrar em uma partida que considerou fácil. Às vezes pode ser fatal a quem deseja permanecer no topo.

*Números do App Footstats Premium

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 3X1 INTERNACIONAL

Local: Maracanã
Data: 25 de setembro de 2019
Árbitro: Luiz Flávio de Oliveira (SP – Fifa)
VAR: Emerson de Almeida Ferreira (MG)
Público e renda: 60.244 pagantes / 64.548 presentes / R$ 2.810.435,50
Cartões amarelos: Willian Arão (FLA) e Edenílson (INT)
Cartões vermelhos: Bruno (INT), aos 17 minutos e Guerrero (INT), aos 42 minutos do primeiro tempo
Gols: Gabigol (FLA), aos 19 minutos do primeiro tempo; Edenílson (INT), aos três minutos, Arrascaeta (FLA), aos dez minutos e Bruno Henrique (FLA), aos 29 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Diego Alves, Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Marí e Filipe Luís; Everton Ribeiro, Willian Arão (Reinier, 23’/2T), Gerson e Arrascaeta (Vitinho, 39’/2T); Bruno Henrique e Gabigol (Berrío, 41’/2T)
Técnico: Jorge Jesus

INTERNACIONAL: Marcelo Lomba, Bruno, Rodrigo Moledo (Klaus, 10’/1T), Cuesta e Uendel; Rodrigo Lindoso; Nico Lopez (Zeca, 21’/1T), Edenilson, Nonato (Guilherme Parede, 27’/2T) e Patrick; Guerrero
Técnico: Odair Hellmann

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