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Maduro e competitivo, Palmeiras expõe Flamengo e leva a Supercopa

Gabriel Menino Palmeiras

(Twitter / Palmeiras)

Gabigol Supercopa 2023

(Twitter / Flamengo)

Há duas enormes obviedades no confronto entre os dois clubes mais imponentes no continente em dias atuais. É um Palmeiras muito mais forte coletivamente, com Abel Ferreira há pouco mais de dois anos no comando de uma equipe altamente competitiva, madura e vitoriosa. E há um Flamengo tecnicamente superior e que a cada seis meses, em média, modifica seu comando para tentar dar um coletivo a tanto talento e seguir a abocanhar taças. Mais uma vez no duelo direto por um taça prevaleceram a competitividade e a coletividade alviverde na Supercopa do Brasil, em Brasília. Uma virada de 4 a 3 de tirar o fôlego que mostrou virtudes e defeitos dos dois lados, principalmente pelo início de temporada. Mas expôs ainda mais o Flamengo em seus primeiros passos com Vitor Pereira e a necessidade de urgência às vésperas do Mundial de Clubes.

É necessário valorizar ainda mais o trabalho de Abel Ferreira porque embora tenha dois anos à frente do Palmeiras o time campeão perdeu dois titulares importantes. Danilo e Gustavo Scarpa saíram sem reposição por enquanto. Se o elenco já estava na conta do chá, o desafio cresceu. Conhecer tão bem o clube e o grupo, saber até qual ponto é possível cobrá-los e levá-los ao limite mental, tático, técnico e físico é enorme vantagem em momentos decisivos. Abel entendeu que, além da parte coletiva, fisicamente também teria vantagem sobre o Flamengo. Deveria pressionar. Ganhar espaços em campo. Impedir o rival de ter a bola a maior parte do tempo, ficar confortável. E sair em velocidade pelos lados. Esqueça o Palmeiras do início do trabalho de Abel que dava a bola ao adversário e esperava para reagir.

Assim pôs o time em campo no 4-2-3-1, com Gabriel Menino e Zé Rafael como volantes, Rony à direita, Dudu à esquerda para saídas rápidas, Veiga por dentro e o guri Endrick mais à frente para iniciar a pressão. Incomodou demais. Pois o Flamengo de Vitor Pereira ainda não tinha enfrentado um rival de grande porte. E traz um problema enorme desde a última temporada. Mesmo no breve auge que viveu. Imagine então para um time que, ainda com Dorival, já indicava baixar demais o nível a ponto de ter de trocar de técnico campeão das copas. O 4-4-2 do losango funcionava bem ofensivamente, liberava Rodinei pela direita, mas por várias vezes deslocava demais os setores. Havia alguma pressão na frente, mas defesa, meio e ataque espaçavam e ofereciam buracos aos rivais.

Palmeiras no início: velocidade pelos lados para avançar

O 4-4-2 sem o losango atual apresenta os mesmos problemas. Diante de um rival altamente qualificado e preparado para atacar estas falhas é fatal. O time acabou exposto e foi vazado quatro vezes. Impossível competir assim. É simplista demais indicar que a saída de João Gomes, ótimo jogador, veloz, voluntarioso e marcador eficaz, é o mero problema. Seria indicar que a venda do volante e a contratação de Gerson foi uma movimentação infeliz no mercado. Não foi. Gerson é muito mais jogador do que João Gomes e qualifica o Flamengo. Tem capacidade para dar fluidez ao meio, marcar, criar. Falta tempo. Coordenação. Treino. Time agrupado. Melhora física. Mas tempo, neste momento, o Flamengo não tem. A Supercopa já bateu na porta e foi perdida, o Mundial se aproxima em dias. E faltam, por vezes, maior concentração, imersão na disputa. Até competitividade ao nível que a decisão merece.

Parece risível falar sobre isso em um texto com linhas que abordam um time multicampeão nos últimos cinco anos. Mas este Flamengo invariavelmente cai neste erro. Iniciou em Brasília, além de toda pressão palmeirense, a partida de uma maneira lenta, desconcentrada, quase soberba. Um misto de tudo. Na própria saída de bola quase foi surpreendido algumas vezes, como quando Santos chutou entre Endrick e Dudu. Como dotado de uma certeza que, por ser tecnicamente superior, resolveria a questão quando determinado a isso. Não ocorreu mais uma vez. A exceção a esse sentimento aparente é Gabigol, sempre elétrico, sempre no ponto máximo da competitividade. Não à toa fala a língua da massa. No campo, Menino pressionava Gerson. Piquerez vez e outra vigiava Everton Ribeiro. Havia dificuldades para o Flamengo fazer o seu jogo pelo meio, como prefere. Arrascaeta estava fora do jogo, em dia ruim tecnicamente. E a pressão dos homens de frente era feita, mas não com tanta intensidade. Gerson afundava pelo meio por vezes. A partir daí, o Flamengo se rompia em blocos. O Palmeiras, bem treinado, saía de Pedro, Gabigol e Arrascaeta e acelerava. Levava perigo.

Mas a qualidade é tamanha que em um vacilo o time rubro-negro consegue converter chances. A qualidade é latente. Arrascaeta desarmaou Zé Rafael e sofreu pênalti que Gabigol, sempre ele, conseguiu cobrar bem. Mas claramente o Palmeiras era superior. Cumpria a sua ideia de não deixar o Flamengo dominar o jogo, ter a posse amplamente. Sem descanso, sem a bola no pé, o time mais técnico sofre. Corre mais. Desgasta-se mais. Os clarões passaram a ser mais constantes. Por dentro, com Menino e Veiga por trás de Maia e Gerson. Com Rony muito acionado às costas de Ayrton Lucas – ótimo ofensivamente, mas com problemas na parte defensiva. Dudu, do outro lado, também dava problema a Varela. Aí um parênteses: virou regra de parte da torcida rubro-negra no Twitter perseguir o lateral uruguaio. Não é craque e nem será, mas é jogador bem mais equilibrado do que Matheuzinho, por exemplo. O reserva pode seguir como ótima opção para necessidades especificamente ofensivas, mas certamente teria sofrido muito mais com Dudu.

Com tanta liberdade palmeirense em campo não foi surpresa ver o jogo sair da direita à esquerda, voltar ao meio até Dudu limpar para o chute triscar em David Luiz e sobrar para Veiga bater no cantinho de Santos. O empate já parecia até bom negócio para os rubro-negros diante de um primeiro tempo tão abaixo quando Menino, de novo, teve espaço para receber e acertar uma bomba e dar a virada num golaço. 2 a 1 que fez o estádio ferver com a festa da torcida alviverde e o Flamengo entender que necessitaria mudar postura e entrar no segundo tempo diferente. Buscar com maior intensidade o jogo pelo meio. Jogar mais agrupado, evitar que os setores se separassem tanto. Qualidade há. Falta coletivo, por mais que o trabalho esteja no início.

Flamengo no primeiro tempo: time bem espaçado, com clarões

Foram ótimos minutos iniciais do segundo tempo. O Flamengo empurrou o Palmeiras para o seu campo, teve a posse, abriu os laterais e trabalhou bastente pelo centro. Everton Ribeiro caiu muito pelo setor, Gerson igualmente, Thiago Maia manteve a postura de proteção aos zagueiros com maior suporte do Coringa. O Palmeiras entendeu e se recolheu. Tinha dificuldade para sair. Desta maneira, Léo Pereira iniciava o jogo, ia até Ayrton à esquerda, que buscava Gerson ou Everton por dentro. Em uma dessas Everton conseguiu quebrar a marcação adversária com um drible e achar Gabigol na área. O toque sutil por cima de Weverton empatou o jogo. 2 a 2. Havia uma expectativa que o Flamengo engrenasse em sua ideia de jogo. Não ocorreu. Porque, novamente, o time se partiu em setores. Não manteve o controle do jogo, aceitou integrar mais uma vez o vaivém proposto pelo Palmeiras. E a bola passou a rondar a sua defesa. Resultou no cruzamento da direita para Endrick, no chapeu, na mão de Everton Ribeiro e no pênalti de Veiga. 3 a 2.

Novamente, o Flamengo teria de subir a montanha para competir com o Palmeiras. E o fez imediatamente. E de novo pelo meio. Everton, Gerson e esticada à esquerda para Ayrton ultrapassar, ir ao fundo e cruzar para Pedro tocar de calcanhar, livre, na pequena área. Neste instante, Abel Ferreira, ensadecido à beira do gramado, cobrava do time o posicionamento necessário para travar os avanços de Ayrton pelo setor. Fez a leitura e teve a ação imediata. Sacou Endrick, jogou Rony para o centro à frente e pôs Mayke à direita para dobrar com Marcos Rocha. A tentativa de inibir Ayrton Lucas deu certo e, mais, sobrecarregou o Flamengo. Gerson teve de se posicionar no setor para ajudar o lateral. Cansado, sem pernas, o volante puxou arranques de onde não tinha para combater Mayke às costas de Ayrton. Gesticulou, pediu calma ao time. Queria reter a bola, controlar a partida com a posse. Diminuir o ritmo. Sentia o perigo iminente. Léo Pereira sofria com as bolas esticadas para Rony. O setor era alarmante para o Flamengo.

Palmeiras ao fim: três zagueiros e Mayke e Marcos Rocha na direita

O Palmeiras havia avisado. Tinha muita liberdade pelo meio com um Flamengo cansado. Avançava pela direita principalmente com Mayke e Marcos Rocha. Se houvesse dificuldade, virava o jogo à esquerda para Dudu tabelar com Veiga e buscar Rony na área. Quase chegou ao quarto gol assim. Santos salvou e, no contragolpe, o Flamengo teve a chance derradeira. Thiago Maia esticou por dentro, Arrascaeta abriu rápido para Pedro na esquerda, que arrancou. Gabigol, livre do outro lado, pediu a bola. Aí valeu a característica do atacante. Fosse Bruno Henrique ou Cebolinha fatalmente a bola seria cruzada pra o Camisa 10 completar diante de Weverton. Pedro preferiu a jogada individual e acabou desarmado. Em minutos, o Palmeiras repetiu o lance. Menino avançou livre pelo centro e virou para a esquerda para Dudu. A bola veio cruzada para a direita. O setor desguarnecido pelo Flamengo, com jogadores cansados, sem blindagem. 4 a 3, ainda que haja contestação por conta do posicionamento de Mayke, em posição de impedimento ao se chocar com Santos.

Ao fim, time mais bagunçado, em busca do gol de empate salvador

A partir daí, pouco houve de jogo realmente qualificado. Vitor Pereira sacou Arrascaeta e Gerson e abriu Cebolinha, com Vidal no meio. Pôs Matheuzinho na vaga de Varela. Abel formou uma linha de cinco e pôs Breno Lopes e Navarro. Fechou-se em busca de um contra-ataque. O Flamengo não conseguiu penetrar e circulou apenas em torno da área, com cruzamentos de pouca esperança. Um título justo pelo futebol apresentado pelas equipes – e o torcedor rubro-negro pode reclamar o quanto quiser do quarto gol, falamos do jogo apresentado – e justificado diante da diferença do tempo e nível de trabalho.

Abel apresentou soluções, de novo mobilizou o Palmeiras, mais uma vez sai com a taça. Só que sofreu três gols de um time que, ainda que tenha todo o potencial ofensivo conhecido, está em franca reconstrução. E é seu grande rival sul-americano. Vai precisar de reforços, obviamente. Do lado rubro-negro, a urgência é maior. No primeiro embate de fato de 2023, a taça não chegou, a pressão para a semifinal do Mundial aumenta e o Flamengo tem de buscar soluções para não se espaçar, um drama já do time de Copas. Tempo é ingrediente escasso, mas talvez Vitor Pereira tenha de modificar a equipe de forma emergencial para o Mundial ou ao menos a sua maneira de encarar o jogo. É essencial que o time atue ao menos de forma mais agrupada. Na festa de Brasília, o supercampeão foi o Palmeiras. E, de quebra, deixou o Flamengo bem exposto.

FICHA TÉCNICA
PALMEIRAS 4X3 FLAMENGO

Data: 28 de janeiro de 2023
Árbitro: Wilton Pereira Sampaio (GO – Fifa)
VAR: Rodrigo D´Alonso Ferreira (SC)
Público e renda: 56.095 presentes / R$ 11.592.774,70
Cartões amarelos: Gabriel Menino (PAL) e Gabigol, David Luiz, Everton Ribeiro, Marinho (FLA)
Cartão vermelho: Abel Ferreira (PAL)
Gols: Gabigol (FLA), aos 25 minutos, Raphael Veiga (PAL), aos 37 minutos, Gabriel Menino (PAL), aos 48 minutos do primeiro tempo e Gabigol (FLA), aos cinco minutos, Raphael Veiga (PAL), aos 13 minutos, Pedro (FLA), aos 15 minutos, Gabriel Menino (PAL), aos 28 minutos do segundo tempo

PALMEIRAS: Weverton, Marcos Rocha, Gustavo Gómez, Murilo e Piquerez; Zé Rafael (Luan, 41’/2T) e Gabriel Menino (Jailson, 33’/2T), Rony (Rafael Navarro, 41’/2T), Raphael Veiga e Dudu (Breno Lopes, 41’/2T); Endrick (Mayke, 18’/2T)
Técnico: Abel Ferreira

FLAMENGO: Santos, Varela (Matheuzinho, 30’/2T), David Luiz, Léo Pereira e Ayrton Lucas (Matheus França, 42’/2T), Thiago Maia Gerson (Vidal, 34’/2T), Everton Ribeiro e Arrascaeta (Everton Cebolinha, 30’/2T); Gabigol e Pedro
Técnico: Vitor Pereira

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