Gabigol gol Grêmio Brasileiro 2020 Maracanã
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Organizado, Botafogo causa dificuldades a um Flamengo em seu novo normal

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Gabigol gol anulado Botafogo Brasileiro 2020

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Mesmo há alguns meses as diferenças técnica e tática entre Flamengo e Botafogo não se refletiam em campo a ponto de tornar o duelo desigual. Os dois confrontos do Brasileiro 2019 tiveram vitórias rubro-negras duras. O primeiro na edição de 2020 manteve a tendência de duelo parelho. Cada time seguiu sua ideia em um primeiro tempo muito bem disputado. Diante de um Flamengo em seu novo normal, o Botafogo teve organização, mas esbarrou no seu limite técnico para garantir o triunfo. O 1 a 1 no apagar das luzes fez justiça a um clássico disputado, mesmo, em 52 minutos.

Depois do empate também no apagar das luzes contra o Grêmio, o Flamengo iniciou a partida de maneira menos cinza, com ideias mais claras. Cabeça de Domènec Torrent com muito pouco da Era Jesus. A comparação será inevitável ainda por meses, provavelmente. O catalão parece saber disso e tenta, desde já, implementar o seu rosto. Uma vez mais indicou a predileção pelo 4-3-3 e promoveu mudanças: Matheuzinho por necessidade física com a lesão de João Lucas. Diego e Pedro Rocha nas vagas de Gerson e Arrascaeta por opção. É assim que Dome vê futebol: meias que trabalhem mais por dentro em vez de iniciar a construção por fora. Ali, nos lados do campo, deseja jogadores rápidos, com capacidade de mano a mano, com muita velocidade. O que não explica, verdade, a opção feita no posicionamento da frente, com Bruno Henrique centralizado e Gabigol à direita. É um carro que anda e troca de pneu em pleno movimento a cada rodada. Dome tenta entender melhor como acelerar.

Fla no início: 4-3-3 com Bruno centralizado e Gabigol na ponta

Do lado do Botafogo, Paulo Autuori respeitou a capacidade técnica do Flamengo e fez a leitura que já tinha demonstrado contra times tecnicamente superiores e com gosto pela posse de bola. Permite o avanço até a intermediária e dali bloqueia o rival para recuperar a bola e disparar nas saídas rápidas pelos lados. Num 3-4-3, o time alvinegro defendia com cinco para bloquear os pontas do Flamengo. Mas permitia uma diferença: Forster invariavelmente pressionava mais à frente pelo meio quando o time ainda começava a ser atacado. Tentativa de causar desconforto aos meias rubro-negros, obrigando o rival a atuar pelos lados.

Uma ideia com total lógica, mas que esbarrou no limite técnico: Pedro Rocha, bem no jogo, conseguia levar superioridade sobre Kevin com regularidade, principalmente com o pouco auxílio de Bruno Nazário no setor. Ainda provocava a desorganização na defesa ao chamar sempre Marcelo Benevenuto para fora da área. O Flamengo teve assim seus 30 melhores minutos da ainda breve Era Dome. Passes curtos, pressão na saída do Botafogo, velocidade principalmente pela esquerda. Um Flamengo, enfim, competitivo e que parecia, no geral, estar em melhor nível físico. Em jogada de Pedro Rocha pela esquerda, Bruno Henrique cabeceou em cima de Gatito, perdendo chance clara. Parecia um Flamengo superior. Até o primeiro susto.

Botafogo no início: defesa com cinco, escape com Luís Henrique

Parece incrível traçar linhas para constatar que o campeão brasileiro e da Libertadores tem crise de falta de confiança. Mas o Flamengo parece estar atravessando exatamente esta questão, além do início de um trabalho com novas ideias. Enquanto era impositivo, estava no campo rival e quase não foi agredido, o Flamengo pouco titubeou. Filipe Luís segurava um pouco mais ao lado dos zagueiros e é o responsável pela saída de bola, liberando Arão. Do outro lado, Matheuzinho abre até a linha do campo e avança, aproximando-se de Gabigol. Requer um trabalho de sincronia para que a direita não se torne um ponto vulnerável. Gabigol não tem perfil para voltar à defesa pelo corredor lateral. Pressiona, sim, pelo meio, incomodando a defesa rival. O Botafogo entendeu o espaço que tinha por ali, principalmente com a velocidade de Luís Henrique. Rápido, o garoto tem também inteligência para encontrar as brechas. Faltou competência na finalização, em contra-ataque quase fulminante, bola em Kevin para receber de volta e perder o gol debaixo da meta aberta. O Flamengo entrou, então, em queda. Os problemas ficaram mais evidentes.

Por dentro, Diego até cumpria bom jogo, embora faça a bola andar menos, mas Everton Ribeiro parece perder a ótima noção do espaço que tem do lado direito. É habilidoso, tem gosto pelo drible para construir a partida. Entrar na área junto com Arrascaeta, por exemplo, na área Jesus. Por dentro deve pressionar mais o rival e tocar mais a bola. Sabia que teria ali o suporte de Rafinha na construção e na defesa. Ainda tenta se encontrar. Por ali, com Matheuzinho avançado, o Botafogo passou a pressionar com os contragolpes de Luís Henrique em muita velocidade. Em mais um deles, rolou ao centro e Honda apareceu para finalizar com perigo, à esquerda de Diego Alves. Um primeiro tempo curioso, onde o Flamengo teve superioridade na maior parte do tempo e o Botafogo contou com as melhores chances. Cada um a seguir a sua ideia.

Na volta do intervalo, Domènec tentou corrigir o erro de escantear Gabigol à direita. Voltou o 9 para o centro, trocando com Bruno Henrique. Depois, inverteu os pontas, com Pedro Rocha ocupando a direita. Já era um Flamengo pior, mais confuso, diferente do time que tinha ideia do que cumprir no primeiro tempo. Autuori percebeu a dificuldade no rival e mudou o time, embora com a mesma estratégia de contragolpes. Passou ao 4-4-2 com Danilo Barcelos na lateral, Guilherme mais ao meio ao lado de Honda, Barrandeguy com mais segurança do que Kevin à direita e Pedro Raul para fazer companhia a Matheus Babi, muito discreto no primeiro tempo.

Fla ao fim: 4-2-4 com dois atacantes na área e dois abertos

O 4-3-3 rubro-negro tinha maior dificuldade principalmente pelo meio. Dome sacou Pedro Rocha e colocou Vitinho pela direita. Em seguida, Diego saiu para a entrada de Thiago Maia. Com o volante com mais vigor e jogo mais vertical, Filipe Luís cresceu ainda mais no jogo. Passou a ser mais presente na equipe não apenas no cuidado à defesa e início do jogo, mas também na tentativa de ser um articulador mais à frente. Foi dele o cruzamento feito para o gol bem anulado de Gabigol pelo VAR devido a toque de mão na bola de Bruno Henrique. Com o Botafogo retraído, Dome acionou mais uma vez uma fórmula que tem sido constante nos últimos jogos: o 4-2-4. Everton Ribeiro saiu para a entrada de Pedro, dentro da área com Gabigol. Vitinho e Bruno Henrique abriram pelos lados, com Thiago Maia e Willian Arão por trás. Filipe Luís continuava a descer. Um jogo monotóno diante da falta de agressividade rubro-negra, com excesso de passes laterais. Autuori respondeu com Rhuan às costas de Filipe Luís. Mas não conseguiu aproveitar o setor.

Botafogo ao fim: meio mais congestionado e saídas rápidas

O clássico acabou por sair da monotonia, mesmo, nos últimos sete minutos. Um golaço de voleio de Pedro Raul após sobra em escanteio. 1 a 0. E um Flamengo de novo presenteado com um pênalti marcado corretamente pelo VAR após mão do zagueiro. Desta vez, Marcelo Benevenuto. Gabigol cobrou bem, no alto, e deixou tudo igual. 1 a 1. 13 dos 50 gols do time na temporada são dele, fora a participação em outros nove com assistências. Um resultado que trouxe justiça ao jogo, apesar dos números com 67% de posse rubro-negra* e cinco finalizações no alvo contra um Botafogo bem postado na maior parte do jogo, ciente do necessário para equilibrar as ações. O Flamengo atual é um time com crise de confiança e má fase técnica representada talvez por Bruno Henrique, atacante que não consegue executar o que pensa, sombra do que foi até a paralisação. Não é apenas Dome e suas insistências, como não utilizar Arrascaeta e Gerson nem mesmo por breves minutos. A Era Jesus passou. É um Flamengo no seu novo normal.

*SofaScore

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 1X1 BOTAFOGO

Local: Maracanã
Data: 23 de agosto de 2020
Árbitro: Leandro Vuaden (RS)
VAR: Jean Pierre Gonçalves Lima (RS)
Público e renda: portões fechados
Cartões amarelos: Everton Ribeiro, Matheuzinho e Rodrigo Caio (FLA) e Caio Alexandre
Gols: Pedro Raul (BOT), aos 48 minutos do segundo tempo e Gabigol (FLA), aos 55 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Diego Alves, Matheuzinho, Rodrigo Caio (Thuler, 19’/2T), Léo Pereira e Filipe Luís; Willian Arão, Diego (Thiago Maia, 23’/2T) e Everton Ribeiro (Pedro, 36’/2T); Pedro Rocha (Vitinho, 19’/2T), Bruno Henrique e Gabigol
Técnico: Domènec Torrent

BOTAFOGO: Gatito; Marcelo Benevenuto, Forster (Pedro Raul, 12’/2T) e Kanu; Kevin (Barrandeguy, 12’/2T), Caio Alexandre, Honda (Luis Otavio, 32’/2T) e Guilherme; Bruno Nazário, Matheus Babi (Rhuan, 32’/2T) e Luís Guilherme
Técnico: Paulo Autuori

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