No inconsequente calendário do futebol brasileiro por vezes é possível ter a rota corrigida graças a insucessos. Neste início de ano, o Flamengo parece seguir esta trilha. A eliminação precoce na Libertadores de 2017 possibilitou a entrada na Copa Sul-Americana, responsável por estender o fim da temporada e atrasar a chegada dos titulares no nascer de 2018. Então, sem pressão de colocar seus principais jogadores em campo por evidente necessidade de aprimorar a parte física, o Flamengo engatinha tranquilamente de forma homeopática.
A conta-gotas incorpora jogadores ao elenco principal ao mesmo tempo que abre espaço para os jovens. Ainda assim, as dificuldades encontradas são poucas. A superioridade de 2017, quando foi campeão invicto, tem sido mantida. Desta vez, a vítima foi o Bangu, na Ilha do Urubu, abatido por 1 a 0 com o primeiro gol de Lincoln entre os profissionais.
Os debutantes em 2018 da vez foram Romulo e Lucas Paquetá. Paulo César Carpegiani manteve a formação da vitória magra sobre a Cabofriense. Um 4-3-3 formando um 4-1-4-1 ao defender. Mas não era Paquetá quem fazia a organização centralizado. Meia de origem e utilizado como centroavante em 2017, ele voltou a colaborar. Desta vez, na ponta direita. Vinicius Junior do outro lado, Lincoln centralizado. Romulo à frente da zaga, Ronaldo pela esquerda e Jean Lucas, de novo mais adiantado, pelo lado direito. Aí, talvez, um pecado deste início de ano.
Logo na estreia do Carioca, Jean Lucas empolgou como segundo volante. Tem classe, boa recuperação, sabe passar a bola e possui a característica de manter muito a posse. Ao levar a pelota ao ataque, leva também qualidade, tentando trabalhar no espaço entre zagueiros e volantes. Mais próximo ao ataque, a necessidade de tocar a bola de forma mais rápida para evitar o choque com a defesa rival é latente. E ele mostra, ainda, a dificuldade de um garoto de 19 anos para se adaptar. Não foi o que ocorreu com seu companheiro no meio, Ronaldo.
Mais postado ao lado esquerdo, como na partida anterior, o volante mostrou qualidade para voltar e ajudar no desarme no campo de defesa. E ser uma arma para encostar em Vinicius Junior pelo lado esquerdo. Procura, geralmente, enfiadas de bola, passes espetados para aproveitar a velocidade do garoto revelação. Nada de toques laterais. Tentou 31 passes, de acordo com o Footstats, acertando 29. Era essa a estratégia inicial. Chamar o Bangu, um time até organizado, para aproveitar a velocidade dos meninos em contra-ataque. Deu a falsa impressão de domínio do Alvirrubro diante de algumas seguidas trocas de passe. Mas não era verdade. O Flamengo, embora em nível inferior aos outros jogos, mandava na partida. E deixou isso bem claro quando adiantou todos os setores para imprensar o Bangu. Não houve muito jeito de segurar.
Paquetá, pela direita, mostrou como é um jogador inteligente, que se adapta às circunstâncias ao seu redor. Polivalente como diriam os antigos. Mesmo com ponta pelo lado direito, criou oportunidades. Recuava e tentava enfiar bolas esticadas para as ultrapassagens de Jean Lucas ou Rodinei. Chegou a dar um belo chapeu num rival e quase meteu um golaço pelo setor, ao cortar seco o lateral Guilherme e bater de chapa. Mas Capergiani pediu a ele para trocar de lado com Vinicius Junior em alguns momentos. Uma boa sacada.
Foi por ali que Vinicius Junior, já a principal arma ao tentar jogadas individuais por várias vezes em algum momento, surgiu. Com aquele jeito ainda de garoto, camisa meio folga, corpo meio “tortão para a esquerda”, rabiscou três jogadores do Bangu e foi à linha de fundo. O cruzamento saiu no capricho para um oportunista Lincoln completar quase caído para o fundo da rede. 1 a 0.
O segundo tempo foi bem menos convidativo ao torcedor rubro-negro. Talvez até pela questão física. Além de ser início de temporada, os garotos estão pouco acostumados ao ritmo incessante do calendário brasileiro, com seguidas quartas e domingos. As pernas pesam, os pulmões ardem. Vinicius Junior por duas vezes perdeu o segundo gol por aquelas displicências que a adolescência permite. Com 16 minutos, Carpegiani puxou o seu conta-gotas e deu continuidade à homeopatia rubro-negra. Saíram Romulo – em partida de melhor posicionamento à frente da zaga e maior capacidade física do que 2017 – Paquetá e Rodinei. Entraram Cuellar, Geuvânio e Klebinho. O ritmo mais lento dos rubro-negros permitiu ao Bangu adiantar o time e buscar o ataque com mais convicção. Almir, impedido, marcou ao receber lançamento, mas o gol foi bem anulado.
De novo, Carpegiani fez valer as (ainda) possíveis cinco substituições. Lincoln e Ronaldo deram adeus. Vitor Gabriel e Jonas chegaram. A estrutura permaneceu a mesma. A zaga eficiente como em outros jogos com Thuler e Léo Duarte. Jonas à frente da zaga, Cuellar mais adiantado pela direita e Jean Lucas buscando aproximação com Vinicius Junior. Geuvânio, pela direita, até se esforçou. Tentou dribles e voltou para ajudar Klebinho na marcação. Mas não agradou e vaias precoces surgiram na arquibancada. O 1 a 0 sacramentou a terceira vitória seguida no ano e dá tranquilidade ao desenvolver do planejamento.
Com um clássico com o Vasco pela frente, Paulo César Carpegiani não tem a pressão do resultado. Nove pontos e líder do Grupo B, o Flamengo pode promover retornos e estreias com tranquilidade. Os garotos pedem passagem, aumentando o nível de competitividade no elenco. Tudo a conta-gotas. Por linhas tortas em 2017, o Flamengo inicia a história de 2018 de forma correta. Tempo ao tempo.
FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 1X0 BANGU
Local: Estádio Luso-Brasileiro, a Ilha do Urubu
Data: 24 de janeiro de 2017
Horário: 19h30
Árbitro: Leonardo Cavalero (RJ)
Público e renda: 3.777 pagantes / 4.589 presentes / R$ 101.869,00
Cartões Amarelos: –
Gol: Lincoln (FLA), aos 35 minutos do primeiro tempo
FLAMENGO: Gabriel Silva; Rodinei (Klebinho, 16’/2T), Thuler, Léo Duarte e Renê; Romulo (Cuellar, 16’/2T), Ronaldo (Jonas, 26’/2T) Jean Lucas e Lucas Paquetá (Geuvânio, 16’/2T); Vinicius Junior e Lincoln (Vitor Gabriel, 23’/2T)
Técnico: Paulo César Carpegiani
BANGU: Célio Gabriel; Valdir, Michel, Oliveira e Guilherme; Magno, Marcos Júnior, Rodney (Eberson, 30’/2T), Everton Sena (Anderson Lessa, 25’/2T) e Almir (Peralta, 38’/2T); Nilson (Sidney, 38’/2T)
Técnico: Alfredo Sampaio