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A realidade, de novo, se apresenta como um choque ao Vasco diante do atropelo do Racing

Zé Ricardo Vasco

Já no primeiro jogo da fase de grupos, diante da Universidad de Chile, em casa, o Vasco encarou um enorme choque de realidade. Em seus domínios não conseguiu ser páreo para um rival que estava longe de ser o maior desafio do grupo. Após uma partida consistente diante do Cruzeiro, o time parecia ter entendido um pouco melhor o solo no qual pisava. Mas tudo ruiu. Em meio a opções ruins de Zé Ricardo e um Racing completamente envolvente, o Vasco não teve, no pacote dos 90 minutos, uma chance sólida de fazer frente no El Cilindro. A realidade de novo se apresentou como um choque.

Em um momento tão delicado no Grupo 5, sem nenhuma vitória em dois jogos, o momento não indicava ser o ideal para Zé Ricardo testar novas possibilidades. Talvez manter o time no mesmo 4-2-3-1 do ano, no qual alternou bons e maus momentos, classificando para a final do Carioca no último lance e perdendo a taça da mesma maneira, fosse o ideal. Pikachu, artilheiro do time na temporada com oito gols, de um lado e outro velocista, sem Paulinho, talvez Rildo, do outro. Zé optou por ser pragmático. Tentou controlar o Racing em seus domínios e promoveu a estreia do volante Bruno Silva à frente da zaga. Um 4-1-4-1 com Wagner e Evander pelos lados, Desábato e Welington por dentro. Pikachu voltou à lateral. Foi um desastre.

Racing de início: movimentação, troca de posições e Zaracho onipresente

Desde o início ficou claro que o Racing seria extremamente perigoso ao alugar o campo ofensivo, pressionando invariavelmente pelo lado direito do ataque. Um 4-1-3-2 infernal, com intensa movimentação, troca de posições e os garotos Lautaro Martínez e, principalmente, Zaracho, onipresentes. O Vasco era empurrado a seu campo. Se tentara utilizar três volantes para ganhar o meio, falhou miseravelmente. E logo de saída cedeu espaços que só não foram convertidos em gol devido a boas intervenções de Martín Silva, incluindo aí o primeiro pênalti do jogo, de Henrique sobre Saravia. Uma falta inexistente e feita justiça pelo goleiro com as mãos ao defender a cobrança de Lisandro López. O pênalti não entrou, mas o sinal de alerta estava dado. Zé Ricardo não conseguiu resolver.

Vasco no início: espaços e Evander sem pegada na esquerda

Evander, meio-campista e mais lento, não conseguia acompanhar as subidas do lateral-direito Saravia às costas de Henrique. Quando o lateral vascaíno passava, um oceano livre se apresentava às costas para ser explorado. Solari segurava o passo para qualquer eventual cobertura de Saravia e ainda tinha o apoio de Zaracho. Baixinho, driblador, rápido. O garoto de 20 anos dá bem o tom da equipe argentina com Lautaro Martínez, com características parecidas, mas um porte físico bem mais imponente e uma finalização mais eficaz. Mas após a pressão nos 20 minutos iniciais, o Vasco, por incrível que pareça, teve 15 bons minutos.

O caráter ofensivo do Racing no El Cilindro ajudava. Nery Martínez mantinha o pé à frente da zaga e Soto também segurava qualquer subida mais avançada. O descolamento dos cinco de trás com os cinco da frente era visível. Por ali, no espaço vazio, Andrés Ríos recuou e passou a tabelar para as infiltrações dos volantes. Wellington perdeu duas chances incríveis ao sair na cara de Musso. Na primeira bateu para fora, na segunda teve receio de finalizar de esquerda, girou e entregou para o próprio Ríos bater para fora. Desperdícios que seriam vitais para o desenvolver da partida. Pois o Vasco era pior. O Racing era mais perigoso, envolvente.

Era praticamente impossível segurar o placar intacto. Quando Zaracho disparou pelo meio vazio e, no desarme, a bola sobrou para Lisandro López. Esperto, o veterano saía da área para fazer o pivô e dar opção. Atraiu a zaga, que não viu Centurión, já invertido com Solari e apostando no lado direito, invadir a área e bater forte, cruzado, no canto de Martín Silva. 1 a 0. A pane vascaína era clara o suficiente para, seis minutos depois, não acompanhar jogada praticamente idêntica. Zaracho pelo meio, rolada para Centurión na direita. Desta vez, o ex-são-paulino cruzou para Lautaro Martínez tocar para o gol. Festa no El Cilindro. Vasco atônito. Zé Ricardo, à beira do campo, parecia ter a mesma postura.

Ao fim, um Racing mais cadenciado, mas ainda perigoso no ataque

A esperança não se dissipou completamente já no primeiro tempo graças a Martín Silva. No pênalti cometido por Erazo em Lautaro Martínez, o goleiro voou de novo para defender outra cobrança de Lisandro López. O 2 a 0 foi barato. A tentativa de Zé Ricardo de consertar o erro chegou tarde. Sacou Evander no intervalo, pôs Evander e o time se ajustou em um 4-4-2. Na teoria, menos espaços ao Racing. Na prática, é impossível prever a agilidade de Zaracho ao aproveitar ao cochilo de Wellington na saída de bola, o drible certeiro em Paulão e Martín Silva para tocar ao gol vazio com apenas seis minutos. E jogo terminou por aí.

Ao fim, um 4-4-2 resignado com o atropelamento

O restante foi apenas respeito ao regulamento da competição. O Vasco não tinha forças. Muito menos mental. Não entendia mais o jogo, passou a ceder os mesmos espaços do primeiro tempo. Pela esquerda, Wagner derrubou Saravia e Lisandro López, enfim, venceu Martín Silva. 4 a 0 com 15 minutos. Zé Ricardo, inerte, não oferecia resistência junto ao Vasco. Coudet, do outro lado, poupava o time como podia. O Racing tirou o pé e acelerava cada vez menos. A segunda substituição vascaína chegou apenas aos 40 minutos do segundo tempo, quando o estreante Bruno Silva deu vez ao veloz Caio Monteiro, que mal participou do completo fiasco vascaíno na temporada. Uma realidade que se anunciava em meio à confusão eleitoral à qual o clube foi submetido no início de 2018. Seria inocente crer que nada teria impacto.

O elenco esforçado e minimamente competitivo no Campeonato Brasileiro sofreu dois fortes baques. Anderson Martins e Mateus Vital deixaram o clube quase na correria em meio ao caos político. Mais do que o elenco, o time se enfraqueceu. Teve em Paulinho a sua válvula de escape em jogos importantes nesse ano, como diante do Fluminense na semifinal do Carioca. Sem o garoto, perdeu a taça e, diante do Racing, o rumo. Apenas 38% de posse e três finalizações no gol diante de dez do rival, de acordo com o Footstats. É apenas um processo. A confusão em São Januário, claro, teria efeitos no campo em jogos mais pesados. O elenco foi exposto, de novo, na Libertadores. E a realidade, uma vez mais, se apresentou como choque.

FICHA TÉCNICA
RACING 4X0 VASCO

Local: El Cilindro, em Avellaneda
Data: 19 de abril de 2018
Horário: 19h15
Árbitro: Ulises Mereles (PAR)
Cartões Amarelos: Sigali (RAC) e Fabrício, Wellington e Wagner, Andrés Ríos (VAS)
Gols: Centurión (RAC), aos 32 minutos e Lautaro Martínez (RAC), aos 38 minutos do primeiro tempo e Zaracho (RAC), aos seis minutos, Lisandro López (RAC), aos 15 minutos do segundo tempo

RACING: Musso; Saravia, Sigali (Barbieri / Intervalo), Donatti e Soto; Nery Domínguez e Zaracho; Centurión (Meli, 19’/2T), Lisandro López e Solari; Lautaro Martínez (Mansilla, 31’/2T)
Técnico: Eduardo Coudet

VASCO: Martín Silva; Yago Pikachu, Paulão, Erazo e Henrique; Bruno Silva (Caio Monteiro, 40’/2T); Wagner, Wellington, Desábato e Evander (Rildo / Intervalo); Andrés Ríos
Técnico: Zé Ricardo

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